"Cerca Sanitária" Foi à um ano. Opinião do Ex-Comandante Artur Ferreira.
O que mais me marcou foi o dia 17 para 18 de março (de 2020). Estávamos reunidos na Câmara Municipal, na Comissão Municipal de Proteção Civil.
A meio da reunião recebemos a notícia de que iríamos estar sujeitos a uma "Cerca sanitária" a partir das 00:00 horas do dia 18.
Foi um sentimento complicado. Nós víamos as notícias a nível mundial, o que estava a acontecer em Itália, na Lombardia e o que acontecia em Espanha. Aqui era um bocado incerto, não sabíamos muito bem o que era isto da pandemia. As notícias que vinham do outro lado do mundo faziam-nos crer que as coisas se podiam complicar.
Fomos tendo relatos da Autoridade de Saúde que podíamos ter uma pandemia enorme no concelho de Ovar. Foi preocupante porque era tudo desconhecido, ninguém sabia o que isto era, o que é que aí vinha. Era tudo novo, não tínhamos meios e Portugal nunca tinha estado sujeito a uma coisa como esta. Tudo era novo e tivemos de arranjar soluções para controlar a pandemia.
O pior momento foi não termos respostas para dar quando nos perguntavam o que era (a pandemia) e o que podíamos fazer. Não ter respostas para dar no momento foi mesmo o pior momento.
Também o facto de estarmos a trabalhar 24 sobre 24 horas no gabinete de crise e na corporação, pois saía daqui muito tarde, chegar ao quartel e ter lá os homens a aguardar e a tentar perceber mais algumas notícias e o que estava a acontecer. Era uma mistura de sentimentos, de impotência, porque queríamos fazer mais e não conseguíamos, e de consciência tranquila, porque tudo o que tínhamos feito estava a ser bem feito e a surtir efeito.
Eu fui militar, podemos dizer que foi muito parecido com um cenário de guerra.
Não me esqueço do dia em que no município de Ovar ficamos só com 2 cidadãos infetados. São cidadãos, não são números.
São pessoas. Foi uma alegria enorme. Depois veio esta terceira vaga e os números dispararam. Julgo que estamos no bom caminho. Ainda não chegamos aos 2, o objetivo é chegar ao 0, seria excelente.
Há um sentimento de tristeza, porque em todas as missões que eu fiz, enquanto bombeiro, havia um objetivo. Entravamos, resolvíamos o objetivo e saíamos com a missão cumprida. Aqui, no período dum ano nunca deixamos de ter alguma coisa para fazer, porque não chegamos ao 0.
Gostava de ver a acontecer 0 infetados no município de Ovar, seria excelente.
Temos de ter a coragem de desconfinar em consciência. Não podemos deitar a perder todo o esforço que os cidadãos têm feito, não podemos ter pressa de desconfinar.
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